Audiência pública destaca importância do diagnóstico e tratamento inicial para o enfrentamento às IST/HIV/Aids
A importância do diagnóstico precoce do vírus HIV, seguido de tratamento em sua fase inicial para deixar a carga viral indetectável e evitar a evolução para Aids, foi um dos destaques da audiência pública “Vivendo Positivamente - Ações de Enfrentamento às IST/HIV/Aids”, realizada nesta sexta-feira, 27, proposta pela deputada Jó Pereira (PSDB). Contando com a participação do deputado Lobão (MDB), autoridades e ativistas dos Direitos Humanos e a comunidade LGBTQIA+, a sessão deu voz a muitos dos excluídos neste tema e que seguem sendo alvo de preconceitos e desinformação.
“Hoje vamos analisar os dados da realidade, apresentados por autoridades no assunto, para propor novas ações, cobrar o que não está sendo executado e principalmente cuidar das pessoas que vivem positivamente”, disse Jó no início da sessão.
Vinda de Brasília, a mestra em educação Marina Reidel, diretora do Departamento de Proteção de Direitos de Minorias Sociais e População em Situação de Risco do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos fez um relato histórico da pandemia de Aids no Brasil. “Todo trabalho é fruto da sociedade civil, na luta desde 1980 com a explosão dos casos da Aids no Brasil”, relatou Reidel, lembrando que os avanços nesse processo enfrentam preconceito e perseguição. A diretora reconheceu a lentidão histórica do tema no Brasil, mas disse que o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos estará de portas abertas para atender o público em vulnerabilidade. “Estamos de portas abertas ao público LGBT em situação de rua, de risco ou imigrantes”, assegurou.
Magno Alexandre, presidente do Conselho Estadual dos Direiros Humanos de Alagoas, exaltou a importância dessa audiência pública, para ouvir as pessoas envolvidas na resolução desses problemas. "Tratar uma política pública para as pessoas portadores desse vírus e ecoar para a sociedade a importância de evitar a propagação da Aids". Alexandre também elogiou a deputada Jó Pereira pela proposta da democracia participativa na audiência, com todos em torno de um assunto de interesse público tão importante.
Números
No encontro, foram apresentados os “Dados Epidemiológicos do Estado de Alagoas”, pela psicóloga e assistente social da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), Simone Maria Leite Pinheiro, técnica responsável pela prevenção no Programa de IST/HIV/AIDS/Sífilis/Hepatites Virais da Secretaria de Estado da Saúde. Os dados epidemiológicos da capital foram trazidos pela médica Géssyca Cavalcante de Melo, que lembrou o primeiro caso positivo de Alagoas, diagnosticado em 1989. Até junho de 2020, 7.378 pessoas foram notificadas e até agosto do mesmo ano eram 4.470 somente em Maceió. Na década de 2010, foram 1.414 óbitos em Alagoas, com o ato sexual sendo o maior meio de transmissão.
Segundo dados mais recentes, em Maceió são 2038 pessoas com teste positivo para HIV, sendo 1435 entre homens e 603 entre mulheres. A faixa de idade com o maior número de infectados está entre pessoas de 20 e 34 anos, ou 1188 do total. Já entre as pessoas com Aids, são 1066 moradores de Maceió. Destes, 433 são de declarados heterossexuais, 250 homossexuais e 75 de bissexuais. 298 pessoas não declararam sua orientação sexual. Levando-se em conta a média nacional, Maceió ainda possui um índice alto de mortalidade por Aids. A cada 100.00 habitantes, o Brasil possui 5,3 mortes. Alagoas 3,8, em situação melhor que a média do Nordeste, com 4,3. Já a capital alagoana possui um índice de 6,4.
“Precisamos de esforços não só na prevenção e diagnóstico, mas também na retenção dos casos positivos para o tratamento”, disse Géssyca, afirmando que com tratamento, a carga viral pode se tornar inexistente e o paciente não ser mais transmissor.
A médica infectologista Mardjane Alves de Lemos Nunes mostrou a importância do diagnóstico precoce e tratamento realizado na fase inicial. Etapas importantes que poderiam, em menos de 10 anos, encerrar a propagação de Aids no Brasil. A infectologista falou da Meta 90-90-90, das Nações Unidas, que pretende alcançar o controle de contágio até 2030, para a infeção pelo HIV deixar de ser um problema. “Em Alagoas, 85% pelo menos fizeram dois testes. Ou seja, perdemos 15% dos que fizeram o primeiro diagnostico. Já 81% iniciaram tratamento, uma perda de quase 20%. E na parte mais importante dessa estratégia de ouro, apenas 70% conseguem manter carga viral indetectável”, relatou a infectologista.
Mardjane Alves alertou ainda para o fato de Alagoas ter a segunda maior demora do Brasil entre o diagnóstico e início do tratamento: após 6 meses, pelo menos 26% dos casos não iniciaram tratamento. O Brasil possui uma média de 16%. A pior unidade da Federação no quesito é Rondônia, com 27%.
Diante dos dados apresentados, Jó Pereira espera que a audiência ajude na elaboração de uma lei que “trate uma política pública para se viver positivamente, com acesso aos testes e insumos de prevenção”. A deputada foi informada que estes já são fornecidos pelo Ministério da Saúde, em nível federal, e que uma legislação ajudaria na distribuição dos recursos. “Assim como campanhas de conscientização, pois desconhecimento e preconceito do próprio usuário dificultam o acesso ao tratamento.
A audiência faz parte da programação organizada pelo GGM, presidido por Messias Mendonça, referente ao 17 de maio, Dia Internacional Contra a Homofobia, com a realização de uma série de atividades, entre elas a 1ª edição do Prêmio Guerreiros da Diversidade e a 11ª Marcha de Combate à LGBTfobia, em prol da luta por respeito e direitos da comunidade LGBTQIA+.